sábado, 26 de junho de 2010

Kwaidan de Kobayashi Masaki


Kwaidan é um filme de terror japonês produzido em 1964. O título quer dizer “estórias de fantasmas” em japonês. Trata-se, originalmente, de uma coleção de Lafcadio Hearn que trata do folclore japonês. Hearn, apesar de grego, decidiu viver no Japão e sua identificação com a cultura japonesa foi tão intensa que ele adotou o nome de Koizumi Yakumo. Os contos surgem no início do século XX.

Kobayashi Masaki rodou boa parte do filme num hangar e deste modo conseguia controlar os cenários, colorindo-os de maneira intensa. Nas cenas externas, o controle se dá pelas escolhas dos cenários que se adequam magistralmente às respectivas tramas de cada estória. Na verdade, o estilo expressionista se destaca em meio às composições de Masaki que ora indicam referências mais modernas ora apontam para referências próprias da tradição japonesa. Os cenários e os figurinos compõem universos que se integram na unidade do enredo.

Kwaidan é composto de quatro estórias independentes que se unem apenas pelo sentido sobrenatural que envolve seus personagens. As quatro estórias são: O Cabelo Negro, A Mulher da Neve, Hoichi, o sem orelhas e Uma Xícara de Chá. A primeira estória nos fala sobre o sentimento de culpa diante de uma escolha mal feita. Um samurai abandona sua mulher e decide se casar com outra mulher, só que esta é feia e insuportável, mas por trás desta escolha estava seu anseio de ascender socialmente. Arrependido, volta para a primeira mulher que aceita seu retorno de bom grado. Mas no final das contas...

A Mulher na Neve narra a estória de dois viajantes que se perdem em meio a uma forte nevasca. Um fantasma – a mulher da neve – pálido e sinistro, aparece diante dos amigos e congela um deles. Ela permite que o segundo escape, mas o faz prometer que nunca contará ao mundo o que ocorre ali. Ele não se controla, abre a boca e o terror se instala em sua vida.

Hoichi, o sem orelhas é a minha estória favorita. Os fantasmas da batalha de Dan-No-Ura – que toma lugar durante a guerra Genpei – procuram o monge cego Hoichi, um mestre em tocar a biwa e cantar o poema épico que narra os feitos do Imperador Antoku e de seu inimigo Minamoto no Yoritomo. Convocado para tocar num cemitério à noite, Hoichi, sendo cego, não percebe que está tocando para fantasmas. Quando seu mestre descobre o que está acontecendo e elabora um ritual de proteção para seu pupilo, as coisas mudam drasticamente na vida do jovem músico e poeta.

Por fim, Uma Xícara de Chá conta a estória de uma entidade que começa a surgir na xícara de chá de um samurai. A persistência de suas aparições se concretiza através da materialização da entidade.

Para quem gosta das estórias extraordinárias de Daniel Defoe, Edgar Alan Poe, William Beckford, Walpole, Lovecraft ou Clive Baker, creio que este filme não será uma decepção. Além do mais, Masaki trafega com grande desenvoltura entre estilos tradicionais do cinema japonês – como Ugetsu Monogatari e Akira Kurosawa, por exemplo – e cores mais modernas, menos orientais. Esta combinação permite que este interessante e inusitado filme possa ser considerado uma obra-prima do cinema japonês.

O link para download via Torrent:

http://www.torrentportal.com/details/53128/Kwaidan.[DivX5.DVDRip.VBR-MP3].torrent


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quinta-feira, 17 de junho de 2010

Freud Além da Alma de John Huston


A Natureza, vez ou outra, nos brinda com indivíduos de uma potência tão gigantesca que suas rápidas passagens aqui na Terra deixam uma impressão imorredoura. Bukowski chamava este poder de estilo. Estilo que se finca na História e faz com que nós, meros mortais, queiramos seguir este ou aquele indivíduo. Queremos ter a vida deles, a iluminação deles, a inteligência ou paixão deles. Mas, mesmo que haja apenas admiração, é esta marca tempestuosa do indivíduo de poder que risca a História e escreve com uma tinta indelével seu nome em suas páginas de tempo.

No meu conto A Lista Maldita escrevi: “Sempre acreditei no indivíduo e não no coletivo. Isso não quer dizer, contudo, que eu acredite no individualismo. Não é isso. Nenhuma sociedade chegou a evoluir, e por isso mesmo revolucionar seus antigos preceitos, graças a ações fomentadas no seio do coletivo. Não, foi o indivíduo, essa força deslumbrante da Natureza quem rompeu com os grilhões que o esmagava, doando-se ao coletivo que tinha a partir de então uma referência superior, um novo modus operandi capaz de guiá-lo e conduzi-lo, ou não, às suas aspirações superiores. O mundo é um lugar interessante e está cheio dessas almas capazes de solidificar suas vontades sobre todo um bloco concreto denominado coletivo. Somos obrigados a afirmar isso mesmo em frente ao mais irascível materialista ou revolucionário, seja lá o que esses dois termos possam significar. Se nossa teoria repercutir de forma negativa, somos obrigados a evocar as figuras de Marx, Mao, Fidel, Lenin, Guevara e Stalin que são a imagem invertida deste espelho sublime que é o indivíduo pleno de si mesmo. Tudo o que é pleno em si mesmo é luz e transformação”.

Pleno em si mesmo. Creio que esta alcunha vale para Sócrates, Platão, Buda, Jesus, Maomé, Alexandre, Agostinho, Aquino, Bacon, Shakespeare, Da Vinci, Dante, Descartes, Kant, Nietzsche, Picasso, Einstein, etc. A lista maldita é enorme! Freud também figura nesta lista. O que acredito ser mais interessante em todos estes senhores foi uma coragem quase inabalável de acreditarem mais em si mesmos do que nas tradições que os precederam. São homens da mudança, da coragem, da profundidade. Freud teve que lutar contra uma tradição inteira para defender suas ideias.

Assim como Buda, Jesus e Maomé – indivíduos que “fundaram” novas religiões exatamente por acreditarem que seus ideais eram mais poderosos do que as tradições anteriores, o solo em que estas poderiam ter germinado – Freud inaugura um pensamento original e profundo sobre o ser humano: a psicanálise. Giordano Bruno, Galileu e Copérnico já haviam desferido um terrível golpe contra nossa vaidade: não somos mais o centro do Universo. Nietzsche, com o seu Zaratustra, também nos mostra que forças inconscientes regem aquilo que acreditamos ser nossa consciência. A supremacia da subjetividade é posta em xeque.

Freud alarga esta visão de Nietzsche e nos empurra para o universo sombrio e profundo do Id. Explica-nos a formação do nosso Ego e diz que a moral, inimiga declarada dos nossos desejos, opera na esfera do Superego. Mas as teorias de Freud não são frutos apenas de elucubrações filosóficas. O próprio Freud sofre de histeria e seu complexo de Édipo quase o obriga a deixar suas pesquisas de lado.

É esta luta contra si mesmo, as descobertas de seus recalques, a sua formação como intelectual e psicanalista, seus estudos com Charcot e Breuer que o filme de Huston narra. O roteiro de Sartre – completado por Charles Kaufmann e Wolfgang Reinhardt – é brilhantemente adaptado por Huston nesta produção de 1962. A intensidade das personagens, a densidade das descobertas de Freud, a filmagem das cenas oníricas que prezam por uma atmosfera que escapa do real e ornamentam a própria realidade, a concisão dos diálogos e uma ambientação peculiar e extremamente bela conferem a este filme uma riqueza ímpar. Claro que, antes de tudo, estamos falando de John Huston, o que, por si só, já valeria a recomendação. Huston quer nos apresentar um Freud humano – distante do mito e mais perto do homem comum que sofre e ama. Freud, entretanto, salta sobre tudo isso e sobre si mesmo e inaugura, então, a originalidade de seu pensamento. Daí sua grandiosidade.

O link para o download do filme no Blog Filosofia e Cinema Transversal:

http://filocine.blogspot.com/2009/09/freud-alem-da-alma-1962.html


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sexta-feira, 11 de junho de 2010

A Onda de Dennis Gansel



O professor Ron Jones - da escola Cubberley, em Palo Alto, na Califórnia – percebeu como era difícil demonstrar a seus alunos o apelo do Nazismo na população alemã. Parecia inacreditável que alguém pudesse, em sã consciência, seguir os passos de Hitler e, por outro lado, afirmar que desconhecia completamente o massacre contra os judeus. Jones, então, criou o movimento intitulado “The Third Wave” (A Terceira Onda). Jones enfatizava que a individualidade da democracia era uma arma contra a própria democracia e o mote do seu movimento era: “Força através da comunidade, força através da ação, força através do orgulho”.

Seu experimento era levado muito a sério. Jones emergia na sala de aula como um verdadeiro ditador e várias regras começaram a ser impostas aos alunos. Eles deveriam se levantar para fazer perguntas e criou uma saudação que lembrava a saudação nazista, obrigando os estudantes até mesmo a se cumprimentarem entre si deste modo mesmo fora da escola.

O mais estranho é que o movimento ganhou vida própria e saiu dos muros do Cubberley High School. Outros estudantes se uniram ao movimento e houve um incrível aumento na produção escolar dos alunos que tomavam parte na Terceira Onda. No início o grupo possuía apenas 30 estudantes, saltando para 200 na mesma semana. No final da semana, Jones anunciou a seus alunos que o movimento havia tomado proporções nacionais e que na sexta-feira haveria uma reunião para decidir o futuro do grupo. Então Jones aparece e diz que aquilo tudo havia sido apenas um experimento para que eles entendessem a superioridade que invadira o espírito do povo alemão durante o regime Nazista.

O mais incrível é que não estou relatando o filme, mas sim um fato que realmente ocorreu nos Estados Unidos. O filme de Dennis Gansel é uma adaptação magistral para este fato real. Uma tentativa de nos lembrar sempre os perigos do fanatismo e das autocracias. Realmente, recomendo.



O link para download no Blog Filme e Download:

http://filmeedownload.blogspot.com/2009/03/onda-2008.html

domingo, 6 de junho de 2010

Festim Diabólico de Alfred Hitchcock



Festim Diabólico (1948) de Alfred Hitchcock é um destes filmes que está repleto de virtudes. Primeiramente, a técnica usada pelo diretor. O filme foi todo filmado em tomadas de 10 minutos e coladas como se não houvesse corte algum. Uma das técnicas era filmar as costas dos personagens – todos de terno – e voltar a partir daí, dando a impressão de continuidade. Além do mais, a estória toda se passa dentro de uma sala de apartamento, o que nos remete a uma concepção própria do teatro, ou seja, parece que o teatro toma de assalto o cinema. As personagens se articulam dentro deste espaço, mas a dinâmica do roteiro e o suspense crescente da trama não permitem que em momento algum esta escolha espacial transpareça tédio ou torne o filme cansativo. Muito pelo contrário: esta escolha centra o filme na própria atuação dos atores e nos meandros do roteiro.

A problemática do filme é a seguinte: dois amigos, em Nova York, Brando (John Dall) e Phillip (Farley Granger) decidem assassinar um amigo em comum usando uma corda (o título original do filme é Rope, corda em inglês). O mais inusitado é o motivo do assassinato. Os dois amigos sentem-se intelectualmente superiores ao amigo morto e desejam matar alguém pelo simples prazer de praticar tal ato e seguir impunemente. Mas o roteiro ainda esconde outras bizarrices. Os amigos, após matarem seu camarada, o colocam num imenso baú no centro da sala do apartamento. O problema é que logo em seguida será dada uma festa no apartamento. Eles, de fato, querem saborear esta superioridade encarando os convidados e não sentindo remorso algum.

Entretanto, o desfecho será mais complexo do que eles esperavam. Inicialmente, os dois amigos sentem-se em êxtase por terem conseguido realizar esta façanha, mas logo a culpa acomete Phillip e isto aumenta a tensão do enredo. Ele começa a sentir-se tão mal com o ato que parece a todo instante querer confessar seu crime, enquanto seu amigo Brandon – menos escrupuloso e mais resoluto - tenta convencê-lo de que qualquer confissão poria tudo a perder. A polaridade gerada entre estas tuas posturas antagônicas só cresce quando um dos convidados, o professor Rupert Cadell (interpretado por James Stewart), desconfia deste antagonismo e começa a confrontar os amigos.

Um filme realmente genial e que nos brinda com um Hitchcock numa de suas melhores fases. Um suspense que tem como pano de fundo uma questão moral muito interessante: qual o limite de nossas escolhas e ações?

Eis o link para download no Blog Alquimista do Download: