segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Coração de Cristal de Werner Herzog




Novamente, Herzog.
Para mim, o cinema sempre funcionou na individualidade. Nunca apreciei ir às salas de cinema apinhadas de gente que se comprazem com o filme passado na grande tela e fazem mais barulhos e movimentos do que o próprio filme. Apenas quando o cinema estava deserto, com pouquíssimas pessoas é que me sentia confortável e encontrava um modo de apreciar esteticamente o momento. Até mesmo ir ao banheiro e visualizar o chão ladrilhado em preto e branco causava esta sensação de beleza. Estranho isso, eu acho.

Este filme de Herzog possui esta possibilidade de uma apreciação estética extremamente individual. Como sempre, Herzog abusa das grandes paisagens naturais para compor sua visão da existência humana. Coração de Cristal inicia-se com um homem solitário contemplando a imensidão do horizonte e depois o movimento hipnótico de uma imensa cascata. Ele sente-se atraído pela vertigem que aquele movimento causa: “Ela me atrai, me succiona ao fundo. Eu começo a cair. Eu caio, eu caio, eu tenho vertigem do cair”. Se o olhar prender-se no movimento da água, a sensação de abismo se instala. O sentido hipnótico das cenas irá dominar o filme do início ao fim. Herzog consegue criar uma nova dimensão dentro de seu cinema: a dimensão paralela de uma realidade mental que se constrói a partir da realidade concreta, mas que vai sempre além e só é possível de se instalar na solitude.

Este homem solitário – meio profeta, meio eremita – encontra-se com um pequeno grupo que diz que um tal de Rup viu gigantes. Ele diz: “Quando nada muda, vocês acham que isso é uma benção”. Sua visão do futuro será uma chave importante dentro da trama do filme.

O vidraceiro Mühlbeck faleceu e com ele se foi o segredo de produzir o vidro-rubi. A pequena cidade concentra esforços para tentar descobrir o segredo que Mühlbeck levou consigo para o túmulo. A ideia de Herzog é genial: o vidro-rubi, uma maravilha artística, desaparecerá para sempre do mundo se não conseguirem o segredo de sua produção. Creio que Herzog transfere o mito da pedra filosofal alquímica para o universo da vidraçaria: mudar as substâncias da natureza, transmutar sua essência como um símbolo para a transformação espiritual do homem.

Um jovem vidraceiro, obcecado pelo segredo do vidro-rubi, decide escavar a casa de Mühlbeck em busca do segredo. Possivelmente o velho mestre tenha escondido o seu segredo. Diversas tentativas de reproduzir o vidro são feitas, mas apenas a frustração invade o coração de todos. Quando a busca se torna em obsessão aguda, um comportamento patológico se abate sobre a cidade.

Infelizmente, para quem foi educado esteticamente através da velocidade dos filmes de Hollywood, será quase impossível apreciar a concepção artística de Herzog. As cenas parecerão demasiadamente lentas e enfadonhas. É uma pena, mas é o preço a pagar. Porém, para quem sabe que a arte não se conquista sem muito esforço, Coração de Cristal é uma aula de bom cinema.

O link para download no Blog Laranja Psicodélica:

http://laranjapsicodelica.blogspot.com/2010/05/coracao-de-cristal-1976.html


.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Sócrates de Roberto Rosselini


Sócrates é um filme produzido pela RAI, filmado na Espanha, falado em italiano e dirigido por Roberto Rosselini. O filme inicia com Atenas tomada pelo governo dos 30 de Lisandro. Os aristocratas gregos discutem os erros de Alcebíades em sua campanha na Sicília enquanto bebem e comem fartamente com os escravos servindo-os. A discussão, de fato, trata do antigo antagonismo entre Esparta, agora dominante, e Atenas, a terra dos pensadores.

Na cidade, os espartanos começam a distribuir comida para o povo e é aí que aparece a figura de Sócrates sendo escorraçado por um estrangeiro. Seus amigos vão auxiliá-lo e perguntam por que ele não leva o desaforado para o tribunal. Sócrates responde: “Não posso me chatear por levar um coice de um burro. Além do mais, é difícil levar um burro para o tribunal”.

O Sócrates de Rosselini é sarcástico, ácido e possui uma língua rápida. Isso atrai os jovens atenienses que abandonam seus pais para seguir o velho filósofo. Os atenienses começam a desconfiar de suas doutrinas e o que elas causam nos jovens que passam a agir de um modo diferente da tradição. Quando os atenienses conseguem retomar o poder, surgem questionamentos sobre a influência de Sócrates na cidade, o que descambará no famoso julgamento de Sócrates e na sentença máxima: morrer envenenado bebendo cicuta.

Porém, antes do julgamento, Rosselini nos brinda com cenas cotidianas do pensador. Uma das melhores é quando Sócrates retorna para sua casa e se encontra com sua esposa, Xantipa. Ela é famosa por ser feia, rabugenta, mandona e desequilibrada. Quando Sócrates entra na sala, ela começa a reclamar que há dois dias ele não aparece e não pensa nos filhos que estão passando fome. Ela fica indignada com Sócrates por este não agir como os Sofistas que vendiam seus conhecimentos para os filhos dos senhores ricos de Atenas. Sócrates diz que o seu conhecimento não se vende.

Num de seus diálogos, Sócrates discute a questão da felicidade e afirma que ser feliz é ser justo. Ser rico e poderoso não é indicação de felicidade para Sócrates (Nietzsche dizia que Patão, e, portanto Sócrates, foram para o Egito, mas não aprenderam com os egípcios, mas sim com os judeus que viviam lá). O conhecimento do bem, sim.

Rosselini recheia o filme com diversas citações retiradas dos Diálogos de Platão. Isso enriquece e dá uma dinâmica interessante ao filme. Uma dessas passagens é a célebre afirmação de Platão de que a escrita prejudicaria a memória dos homens que não procurariam mais o conhecimento dentro de si, mas no exterior.

Por fim, Rosselini junta dois Diálogos de Platão: Apologia de Sócrates e Fédon. No primeiro, temos a defesa de Sócrates diante do tribunal ateniense que o acusa de corromper a juventude e, no segundo, o momento em que Sócrates, antes de tomar a cicuta, explana sobre sua teoria da imortalidade da alma, bebendo a cicuta sem medo algum da morte.

O filme vale a pena tanto para aqueles que já leram Platão quanto para quem não conhece nada de Platão. O Sócrates de Rosselini é um bom começo.

O link para download no Blog Café Filosófico:

http://filosofiacomcafe.blogspot.com/2009/01/scrates-socrate-1971-rmvb.html




.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O Amor e a Fúria de Lee Tamahori


Os países do Novo Mundo passaram por um processo muito semelhante de invasão, perda da identidade cultural, novas influências culturais e a tentativa de redescobrir a essência perdida. O filme O Amor e a Fúria relata este processo de tentar encontrar esta essencialidade perdida. O enredo nos conta sobre uma família comum de Auckland, Nova Zelândia, e os conflitos que são gerados pelo confronto entre a cultura do colonizador e a cultura do colonizado.

A família Heke – pai, mãe e cinco filhos – vive numa área pobre da cidade e convive diariamente com os problemas da cidade grande. A matriarca, Beth Heke, é uma mulher de fibra, corajosa e apaixonada por sua família. Ela abandona sua tradição maori para viver com Jake Heke e constituir família.

Jake é um homem truculento, brigão e que perde o emprego, passando a viver da assistência social. Quase todo o dinheiro é gasto em farras homéricas que Jake faz com seus amigos em sua casa. Quando Beth se antagoniza com o marido, este a espanca. Depois, eles se reconciliam. Há um elemento conhecido aqui: a violência doméstica, as relações amorosas e o choque entre sentimentos tão díspares entre si.

Os filhos de Jake começam a sentir este choque e suas vidas começam a sofrer pequenas transformações. O mais velho entra para uma gangue como maneira de se afirmar, a filha mais velha vive envolta em seus devaneios e escrevendo suas experiências no seu diário e um dos mais novos começa a estudar numa escola que busca manter viva a tradição maori entre os jovens neozelandeses.

Há alguns elementos que tornam este filme interessante: 1. A intensidade das cenas de violência quando Jake está embriagado ou quando começa uma briga gratuita num bar apenas para extravasar suas frustrações ou se firmar entre os seus; 2. As cenas da escola em que podemos ver as danças e lutas maori e o espírito ancestral desta tradição que são muito bem filmadas e 3. A cena mais forte do filme e que nos remete para o estupro de Irreversível: a filha de Jake é estuprada por um de seus tios que sempre andava com ele em suas noitadas.

A menina se enforca por não agüentar a humilhação de tal violência. Quando o pai descobre o que realmente aconteceu – descoberta revelada através da leitura do diário da filha – há uma explosão de violência tão intensa quanto aquela que Santino, no poderoso Chefão, comete contra seu cunhado que espancava sua irmã.

Estes fatores acima, assim creio, valem a recomendação. O link para download no Torrent:

http://www.torrenthound.com/hash/1777a999c3f6f837a00e5cb5308e6ef3cf8d0081/torrent-info/Once-Were-Warriors-1994-DVDrip-XviD-Legendado-PT-Memb-avi


.

domingo, 8 de agosto de 2010

Muralhas do Pavor de Roger Corman


Vicent Price é um ator que consegue imprimir uma verve teatral ao cinema. Seus personagens são sempre novos, vividos com uma intensidade tão sincera que seus filmes parecem se concentrar, antes de tudo, em suas interpretações. Podemos perceber esta assertiva em filmes como O Abominável Dr. Phibes, A Casa do Terror, Museu de Cera e Teatro da Morte.

Esta intensidade fica ainda mais evidente quando ele trabalha ao lado de Boris Karloff e Peter Lorre. Entre esses clássicos dos filmes de terror estão Farsa Trágica e O Corvo. Price é conhecido por trabalhar em filmes que são adaptações dos contos de Edgar Allan Poe. Os mais conhecidos são A Queda da Casa de Usher, A Máscara da Morte Vermelha e O Poço e o Pêndulo.

Entretanto, há um filme em particular que culmina a inventividade de Price diante do universo de Poe. O roteirista Richard Matheson e o diretor Roger Corman decidiram fazer um filme que contasse quatro estórias de Poe. O resultado foi o filme Muralhas do Pavor. Na verdade, o segundo conto do filme é uma adaptação livre de Matheson para dois contos de Poe: O Gato Preto e O Barril de Amontillado. O primeiro conto é Morella e o terceiro é O Estranho Caso do Sr. Valdemar.

A atmosfera de horror inglês e gótico do século XIX é muito bem construída e as três estórias do filme parecem realmente sair das páginas de Poe. Mas é no segundo conto quando o gênio de Price se encontra com Lorre que temos umas das melhores sequencias filmadas inspiradas em Poe.

Price interpreta Fortunato Luchresi, um grande conhecedor de vinhos e casado com Annabel, uma esposa pra lá de infiel (rima infame e inevitável!). E Lorre é Montresor Herringbone, um bêbado inveterado, bonachão e sempre à procura de mais uma taça. Annabel conhece Herringbone, apaixonam-se e Luchresi, ao descobrir o affair, os empareda, livrando-se da esposa infiel e do amigo indesejado.

Mas o que paga mesmo o filme – além de tantas outras qualidades – é quando Luchresi está numa reunião de amantes do vinho. Herringbone aparece na taverna caçoando dos conhecimentos técnicos daquela estranha confraria sobre vinhos. Luchresi desafia Herringbone para saber quem mais entende de vinho. Só mesmo assistindo para entender a criatividade da cena. Canastice, bom humor e humor negro andando de mãos dados.

A indicação já vale por termos Price e Lorre dirigidos por Corman. Faltou Karloff – mas ele foi “substituído” magistralmente por Basil Rathbone.

O link para download no Blog Deadly Movies:

http://deadlymovies.blogspot.com/2009/07/muralhas-do-pavor.html


.

sábado, 31 de julho de 2010

O Chamado de Cthulhu de Andrew leman


Guillermo del Toro e James Cameron estão reunindo forças para filmarem uma adaptação do romance Nas Montanhas da Locura de H. P. Lovecraft. Apesar de ser considerado um mestre na literatura de terror, a obra de Lovecraft nem de longe foi tão adaptada para o cinema como Edgar Alan Poe, Clive Baker e Stephen King, por exemplo. Talvez a razão seja o conteúdo extremamente surreal e excessivamente cósmico que Lovecraft impôs às suas obras.

Seja como for, uma das mais célebres adaptações para o cinema foi exatamente sobre a base da mitologia lovecraftiana: O Chamado de Cthulhu de 2005 e dirigido por Andrew Leman. Adaptações como Reanimator, Dagon ou Necronomicon usam elementos da mitologia lovecraftiana, mas possivelmente o mais bem sucedido seja realmente o filme de Leman.

A razão disto se deve, em particular, pela decisão muito acertada de Leman de fazer a adaptação como cinema mudo, usando efeitos especiais comuns na década de vinte e lançando mão de uma trilha sonora e interpretações próprias deste período.

O roteiro procura se espelhar quase que fielmente no conto homônimo com poucas variações. No conto, o herdeiro do emérito professor de línguas semíticas da Universidade Brown em Providence recebe os papéis de seu tio avô e se depara com uma pilha de laudas redigidas com o título “Culto de Cthulhu”.

Seu tio-avô recebe a visita de Henry Anthony Wilcox que lhe mostra uma singularíssima escultura encontrada em suas expedições arqueológicas, procurando ajuda para interpretar as inscrições da mesma. É aí que se inicia uma nova expedição em busca daquele mistério.

Uma das pistas se encontra entre os bruxos esquimós e os sacerdotes do pântano da Lousinia que entoavam a seguinte evocação: “Ph´nglui mglw´nafh Cthulhu R´lyeh wgah´nagl fhtagn”. O que os especialistas descobriram era que esta frase significa mais ou menos: “Em sua casa de R´lyeh, o morto Cthulhu espera sonhando”. O que eles anseiam, agora, é descobrir a origem deste culto.

O conto, assim como o filme, conta a loucura que se abateu sobre a tripulação em busca do culto de Cthulhu e os pesadelos horrendos que acometiam a todos. O encontro insólito e horrendo mudará a vida daquela tripulação para sempre.

Creio que Leman produziu uma homenagem à altura do gênio de Lovecraft e que não desapontará seus fãs mais ardorosos.

O link para download no Blog Wurdulak:

http://wurdulaks.blogspot.com/search/label/H.P.%20Lovecraft



.

domingo, 25 de julho de 2010

Nosferatu de Werner Herzog



Bram Stoker, com seu romance epistolar Drácula, transforma a mitologia dos vampiros e coloca essa figura singular em definitivo dentro da história da literatura. Um homem condenado à imortalidade e à solidão absoluta, separando brutalmente de sua amada, negando Deus e que precisa viver entre os simples mortais e se alimentar de sangue, eis de modo sucinto o enredo do livro.

Stoker elaborou personagens interessantes e que estruturam a narrativa: o corretor de imóveis Jonathan Harker que parte de Munique para se encontrar com o conde Drácula na faixa limítrofe entre os estados da Transilvânia, Moldávia e Bukovina, no centro da Cadeia dos Cárpatos para tratar da compra de uma propriedade em Carfax que o conde quer efetuar; sua noiva Mina Murray, mulher linda e frágil, afligida pela distância imposta pela partida de seu noivo e amparada por sua amiga Lucy Westenra; Dr. Seward, médico psiquiatra e amigo do Dr. Van Helsing, médico estudioso das ciências ocultas e o conde Drácula, figura soturna, notívago e que exala uma aura maligna sentida por todos.

Este romance foi adaptado diversas vezes para o cinema. Talvez a mais célebre de todas as adaptações seja Nosferatu – uma sinfonia do horror de F. W. Murnau. Essa obra-prima do cinema expressionista compõe um Drácula sombrio e angustiado, numa saga interminável de sombras e terror. Mas possivelmente a adaptação mais conhecida seja o fraquíssimo Drácula de Bram Stoker de Coppola com seus cenários exagerados e interpretações fracas de Keanu Reeves, Winona Rider e Gary Oldman.

Porém, para mim, a melhor adaptação foi feita por Werner Herzog. Seu filme Nosferatu, o vampiro da noite de 1979 é uma aula de cinema com seus cenários esplêndidos e personagens muito bem construídos. Mina é vivida por Isabela Adjani, com seus olhos belíssimos e uma estranha expressão de tristeza constante pela espera de seu amado; Drácula é brilhantemente interpretado por Klaus Kinski que vive um vampiro atormentado por sua solidão eterna e, pior ainda, pelo tédio mortal da imortalidade e Jonathan que é interpretado por Bruno Ganz, o viajante que enfrenta as agruras de uma solidão involuntária e de um mal involuntário.

Herzog acentua o vazio das vidas de seus personagens, seus fracassos margeados por uma solidão brutal. Além do mais, Herzog consegue trafegar de modo magnífico entre o expressionismo alemão e o cinema contemporâneo. Herzog adapta Stoker e Murnau numa leitura bastante pessoal, dando mais atenção ao aspecto dramático da obra. As paisagens naturais – todas belíssimas – alinhadas ao clima soturno, denso e maligno do filme são marcas inegáveis da competência de Herzog.

A cena da entrada do vampiro na cidadezinha alemão às margens do Báltico, com milhares de ratos empesteando as ruas e cortejos fúnebres, é simplesmente fantástica. Creio que esta é a adaptação definitiva da obra de Stoker e uma homenagem brilhante ao gênio de Murnau.

O link para download no Blog Langoliers:

http://langolierss.blogspot.com/2010/01/nosferatu-o-vampiro-da-noite-nosferatu.html


.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A hora do lobo de Ingmar Bergman



No Ulisses, de James Joyce, Stephen Dedalus afirma que o espelho rachado de uma criada é um símbolo da arte irlandesa. Um espelho quebrado bem poderia ser o símbolo do filme A Hora do Lobo de Ingmar Bergman. Aqui, Bergman quer explorar a mistura do sonho com a realidade e o pesadelo.

O filme conta a estória de um pintor que decide abandonar a civilização e ir morar numa ilha rochosa e deserta com sua esposa Alma (vivida por Liv Ullman). Ele é acossado por uma insônia eterna e as noites do casal transcorrem em meio ao silêncio absoluto e a escuridão vonluntária de sua residência encravada em meio aos montes rochosos da ilha.

O silêncio, que poderia indicar paz e tranqüilidade, transforma-se numa angústia constante e que traz consigo uma distância cada vez mais intensa entre o casal. De súbito, uma velha senhora surge no quintal da casa e diz à Alma para procurar o diário do marido embaixo da cama. Aí, ela descobre um caso de infidelidade dele e seu ciúme invade sua mente. A questão é: será que podemos realmente amar o outro quando o conhecemos em toda a sua extensão existencial? Sem atalhos e subterfúgios? Não seria a máscara social um quesito fundamental para que o amor possa ter lugar?

Bergman tenta responder a tal questionamento, mas nunca chega a uma resposta fechada. Para romper a solidão do casal, moradores de um castelo vizinho aparecem e os convidam para um jantar. No fim do jantar, o anfitrião faz um pequeno espetáculo de marionetes com a Flauta Mágica de Mozart e o pintor discute sobre o fim da arte e a questão fundamental da ópera: ainda haverá luz para nós? Será necessário um sortilégio poderoso para nos tirar desta escuridão artística?

Mas, como indiquei antes, Bergman mescla sonho e pesadelo com a realidade, e não sabemos se as pessoas do castelo são reais ou não. Mas o que é certo é que são pessoas simbólicas da vontade da sociedade de vampirizar o outro. Expresso-me melhor: a necessidade social de sempre tirar algo do outro, de sempre adquirir algo e nunca sair de mãos abanando.

Por fim, quando adentra sozinho o castelo em busca de uma antiga paixão, o pintor se vê diante de si mesmo como um espelho que se partiu. O cenário soturno e o clima de pesadelo e solidão dão ao filme uma característica ainda mais interessante. Note-se que o enredo se articula sempre num crescendo e a sensação de distância entre a realidade e o universo onírico vão se encurtando cada vez mais.

Liv Ullman, como sempre, consegue dar uma intensidade dramática ao seu papel que ajuda e muito a manter o clima de inesperado que ronda o filme o tempo todo. Woody Allen, um grande fã de Bergman, possivelmente escolheu Scarlett Johansson como sua musa para acentuar ainda mais esse seu respeito pelo cineasta sueco.

A Hora do Lobo traz símbolos interessantes para falar do ciúme e da distância que se instala entre as pessoas com o passar dos anos. Esta hora, segundo a tradição, é o momento em que as pessoas morrem e outras nascem, a hora em que os pesadelos nos invadem e que, quando acordamos, ficamos assustados.

Eis o link para download no Blog Cinema Cultura:

http://cinemacultura.blogspot.com/search/label/*%20Ingmar%20Bergman


Eis o link para baixar o programa 7-zip que une as partes baixadas num único arquivo:

http://www.superdownloads.com.br/download/165/7-zip/


.

sábado, 10 de julho de 2010

Kafka de Steven Soderbergh


Na postagem anterior, comentei que a maior virtude do filme de Visconti foi adaptar fielmente o romance O Estrangeiro de Camus. Com Soderbergh a situação é oposta: sua maior virtude não foi adaptar um romance de Kafka – como o fez Orson Wells com O Processo – mas sim colocar Kafka dentro de suas obras, mais especificamente O Processo e O Castelo.

Mas Soderbergh não possui a mesma destreza de Visconti. Há erros simplórios tanto no enredo quanto na elaboração das personagens. Há um grupo de rebeldes que poderia ser descartados ou, ao menos, poderia ser melhor elaborado, bem como dois ajudantes de Kafka – uma referência aos dois ajudantes do agrimensor de O Castelo – que beiram a pantomima. Além do mais, a personagem feminina central – possivelmente uma tentativa de fazer alguma referência a Milena – destoa grotescamente do universo absurdo kafkiano.

Entretanto, Soderbergh acerta ao escolher Jeremy Irons para o papel de Kafka: soturno, distante, enigmático e esquivo. E ao escolher, na primeira parte do filme em preto e branco, cenários que nos reportam imediatamente a Fritz Lang, principalmente M - O Vampiro de Düsseldorf. Mas peca terrivelmente na hora de dar um toque de suspense policial através de um enredo frouxo, apressado demais.

O final reserva algo impossível para o universo kafkiano, ou seja, alcançar sua meta e atingir um entendimento do estado de coisas, já que Kafka é, por excelência, o escritor do absurdo. Porém, ainda mantém a solidão muito particular deste escritor e sua visão quase pessimista do mundo.

Recomendo apenas para aqueles que realmente amam a obra de Kafka e, numa dimensão um pouco inferior, apreciam o clima soturno de Lang. De outro modo, creio que será melhor assistir outro filme.

O link para download no Blog Filme e Download:

http://filmeedownload.blogspot.com/2009/05/kafka-1991.html



.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

O estrangeiro de Luchino Visconti


O Estrangeiro de Luchino Visconti é uma produção de 1967. Trata-se de uma adaptação quase “linha a linha” do romance homônimo de Albert Camus. O que este filme possui de melhor – sua excelência em adaptar um dos maiores romances da literatura existencialista – também é seu maior erro. Explico-me.

Lembro-me quando surgiu Budapeste de Walter Carvalho, adaptação da obra de Chico Buarque. Confesso que tentei ler Estorvo e Benjamin e que os deixei no meio do caminho, como se faz quando deixamos uma bagagem velha e inútil em alguma estação perdida entre cidades do interior.

Meu amigo Flávio Minno me emprestou uma cópia pirata do filme em DVD. Pensei numa frase de outro amigo, Pietro Wagner, que dizia que não podia perder o Encouraçado Potemkin de Eisenstein para seu filho, Ulisses, ou seja, o menino deveria ver, compreender e absorver a proposta estética do filme. Pensei nisso quando me deparei com Budapeste. Eu não poderia perder o livro diante do filme. Sempre preferi a literatura ao cinema e foi o que fiz: primeiro li o livro – que achei magnífico – e depois vi o filme.

Este é o problema desta obra de Visconti. Ver este filme antes de ler a obra de Camus é decretar a sentença: perder o livro para o filme. Mas para quem já conhece o romance, então vale realmente a pena enfrentar esta “transposição” para a tela.

Visconti elabora à perfeição o universo camusiano e seu absurdo existencial. Mersault, vivido de modo impecável por Marcello Mastroianni, é o herói absurdo por excelência. Sua indiferença frente ao mundo e suas convicções, dogmas e estruturas burocráticas chega a exasperar um interlocutor menos avisado.

A cena do enterro de sua mãe, as cenas de banho, os bares, as conversas absurdas, a claridade da praia, o assassinato do árabe, o julgamento, a conversa com o padre e sua confissão final para si mesmo estão todos lá. Visconti quer conquistar a voz de Camus para o cinema e, de fato, consegue. Realmente, eu recomendo. Mas com uma ressalva: apenas para quem já leu o livro.

O link para download no site Trixxx:

http://trixxx.com.br/?p=3511


.

sábado, 26 de junho de 2010

Kwaidan de Kobayashi Masaki


Kwaidan é um filme de terror japonês produzido em 1964. O título quer dizer “estórias de fantasmas” em japonês. Trata-se, originalmente, de uma coleção de Lafcadio Hearn que trata do folclore japonês. Hearn, apesar de grego, decidiu viver no Japão e sua identificação com a cultura japonesa foi tão intensa que ele adotou o nome de Koizumi Yakumo. Os contos surgem no início do século XX.

Kobayashi Masaki rodou boa parte do filme num hangar e deste modo conseguia controlar os cenários, colorindo-os de maneira intensa. Nas cenas externas, o controle se dá pelas escolhas dos cenários que se adequam magistralmente às respectivas tramas de cada estória. Na verdade, o estilo expressionista se destaca em meio às composições de Masaki que ora indicam referências mais modernas ora apontam para referências próprias da tradição japonesa. Os cenários e os figurinos compõem universos que se integram na unidade do enredo.

Kwaidan é composto de quatro estórias independentes que se unem apenas pelo sentido sobrenatural que envolve seus personagens. As quatro estórias são: O Cabelo Negro, A Mulher da Neve, Hoichi, o sem orelhas e Uma Xícara de Chá. A primeira estória nos fala sobre o sentimento de culpa diante de uma escolha mal feita. Um samurai abandona sua mulher e decide se casar com outra mulher, só que esta é feia e insuportável, mas por trás desta escolha estava seu anseio de ascender socialmente. Arrependido, volta para a primeira mulher que aceita seu retorno de bom grado. Mas no final das contas...

A Mulher na Neve narra a estória de dois viajantes que se perdem em meio a uma forte nevasca. Um fantasma – a mulher da neve – pálido e sinistro, aparece diante dos amigos e congela um deles. Ela permite que o segundo escape, mas o faz prometer que nunca contará ao mundo o que ocorre ali. Ele não se controla, abre a boca e o terror se instala em sua vida.

Hoichi, o sem orelhas é a minha estória favorita. Os fantasmas da batalha de Dan-No-Ura – que toma lugar durante a guerra Genpei – procuram o monge cego Hoichi, um mestre em tocar a biwa e cantar o poema épico que narra os feitos do Imperador Antoku e de seu inimigo Minamoto no Yoritomo. Convocado para tocar num cemitério à noite, Hoichi, sendo cego, não percebe que está tocando para fantasmas. Quando seu mestre descobre o que está acontecendo e elabora um ritual de proteção para seu pupilo, as coisas mudam drasticamente na vida do jovem músico e poeta.

Por fim, Uma Xícara de Chá conta a estória de uma entidade que começa a surgir na xícara de chá de um samurai. A persistência de suas aparições se concretiza através da materialização da entidade.

Para quem gosta das estórias extraordinárias de Daniel Defoe, Edgar Alan Poe, William Beckford, Walpole, Lovecraft ou Clive Baker, creio que este filme não será uma decepção. Além do mais, Masaki trafega com grande desenvoltura entre estilos tradicionais do cinema japonês – como Ugetsu Monogatari e Akira Kurosawa, por exemplo – e cores mais modernas, menos orientais. Esta combinação permite que este interessante e inusitado filme possa ser considerado uma obra-prima do cinema japonês.

O link para download via Torrent:

http://www.torrentportal.com/details/53128/Kwaidan.[DivX5.DVDRip.VBR-MP3].torrent


.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Freud Além da Alma de John Huston


A Natureza, vez ou outra, nos brinda com indivíduos de uma potência tão gigantesca que suas rápidas passagens aqui na Terra deixam uma impressão imorredoura. Bukowski chamava este poder de estilo. Estilo que se finca na História e faz com que nós, meros mortais, queiramos seguir este ou aquele indivíduo. Queremos ter a vida deles, a iluminação deles, a inteligência ou paixão deles. Mas, mesmo que haja apenas admiração, é esta marca tempestuosa do indivíduo de poder que risca a História e escreve com uma tinta indelével seu nome em suas páginas de tempo.

No meu conto A Lista Maldita escrevi: “Sempre acreditei no indivíduo e não no coletivo. Isso não quer dizer, contudo, que eu acredite no individualismo. Não é isso. Nenhuma sociedade chegou a evoluir, e por isso mesmo revolucionar seus antigos preceitos, graças a ações fomentadas no seio do coletivo. Não, foi o indivíduo, essa força deslumbrante da Natureza quem rompeu com os grilhões que o esmagava, doando-se ao coletivo que tinha a partir de então uma referência superior, um novo modus operandi capaz de guiá-lo e conduzi-lo, ou não, às suas aspirações superiores. O mundo é um lugar interessante e está cheio dessas almas capazes de solidificar suas vontades sobre todo um bloco concreto denominado coletivo. Somos obrigados a afirmar isso mesmo em frente ao mais irascível materialista ou revolucionário, seja lá o que esses dois termos possam significar. Se nossa teoria repercutir de forma negativa, somos obrigados a evocar as figuras de Marx, Mao, Fidel, Lenin, Guevara e Stalin que são a imagem invertida deste espelho sublime que é o indivíduo pleno de si mesmo. Tudo o que é pleno em si mesmo é luz e transformação”.

Pleno em si mesmo. Creio que esta alcunha vale para Sócrates, Platão, Buda, Jesus, Maomé, Alexandre, Agostinho, Aquino, Bacon, Shakespeare, Da Vinci, Dante, Descartes, Kant, Nietzsche, Picasso, Einstein, etc. A lista maldita é enorme! Freud também figura nesta lista. O que acredito ser mais interessante em todos estes senhores foi uma coragem quase inabalável de acreditarem mais em si mesmos do que nas tradições que os precederam. São homens da mudança, da coragem, da profundidade. Freud teve que lutar contra uma tradição inteira para defender suas ideias.

Assim como Buda, Jesus e Maomé – indivíduos que “fundaram” novas religiões exatamente por acreditarem que seus ideais eram mais poderosos do que as tradições anteriores, o solo em que estas poderiam ter germinado – Freud inaugura um pensamento original e profundo sobre o ser humano: a psicanálise. Giordano Bruno, Galileu e Copérnico já haviam desferido um terrível golpe contra nossa vaidade: não somos mais o centro do Universo. Nietzsche, com o seu Zaratustra, também nos mostra que forças inconscientes regem aquilo que acreditamos ser nossa consciência. A supremacia da subjetividade é posta em xeque.

Freud alarga esta visão de Nietzsche e nos empurra para o universo sombrio e profundo do Id. Explica-nos a formação do nosso Ego e diz que a moral, inimiga declarada dos nossos desejos, opera na esfera do Superego. Mas as teorias de Freud não são frutos apenas de elucubrações filosóficas. O próprio Freud sofre de histeria e seu complexo de Édipo quase o obriga a deixar suas pesquisas de lado.

É esta luta contra si mesmo, as descobertas de seus recalques, a sua formação como intelectual e psicanalista, seus estudos com Charcot e Breuer que o filme de Huston narra. O roteiro de Sartre – completado por Charles Kaufmann e Wolfgang Reinhardt – é brilhantemente adaptado por Huston nesta produção de 1962. A intensidade das personagens, a densidade das descobertas de Freud, a filmagem das cenas oníricas que prezam por uma atmosfera que escapa do real e ornamentam a própria realidade, a concisão dos diálogos e uma ambientação peculiar e extremamente bela conferem a este filme uma riqueza ímpar. Claro que, antes de tudo, estamos falando de John Huston, o que, por si só, já valeria a recomendação. Huston quer nos apresentar um Freud humano – distante do mito e mais perto do homem comum que sofre e ama. Freud, entretanto, salta sobre tudo isso e sobre si mesmo e inaugura, então, a originalidade de seu pensamento. Daí sua grandiosidade.

O link para o download do filme no Blog Filosofia e Cinema Transversal:

http://filocine.blogspot.com/2009/09/freud-alem-da-alma-1962.html


.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

A Onda de Dennis Gansel



O professor Ron Jones - da escola Cubberley, em Palo Alto, na Califórnia – percebeu como era difícil demonstrar a seus alunos o apelo do Nazismo na população alemã. Parecia inacreditável que alguém pudesse, em sã consciência, seguir os passos de Hitler e, por outro lado, afirmar que desconhecia completamente o massacre contra os judeus. Jones, então, criou o movimento intitulado “The Third Wave” (A Terceira Onda). Jones enfatizava que a individualidade da democracia era uma arma contra a própria democracia e o mote do seu movimento era: “Força através da comunidade, força através da ação, força através do orgulho”.

Seu experimento era levado muito a sério. Jones emergia na sala de aula como um verdadeiro ditador e várias regras começaram a ser impostas aos alunos. Eles deveriam se levantar para fazer perguntas e criou uma saudação que lembrava a saudação nazista, obrigando os estudantes até mesmo a se cumprimentarem entre si deste modo mesmo fora da escola.

O mais estranho é que o movimento ganhou vida própria e saiu dos muros do Cubberley High School. Outros estudantes se uniram ao movimento e houve um incrível aumento na produção escolar dos alunos que tomavam parte na Terceira Onda. No início o grupo possuía apenas 30 estudantes, saltando para 200 na mesma semana. No final da semana, Jones anunciou a seus alunos que o movimento havia tomado proporções nacionais e que na sexta-feira haveria uma reunião para decidir o futuro do grupo. Então Jones aparece e diz que aquilo tudo havia sido apenas um experimento para que eles entendessem a superioridade que invadira o espírito do povo alemão durante o regime Nazista.

O mais incrível é que não estou relatando o filme, mas sim um fato que realmente ocorreu nos Estados Unidos. O filme de Dennis Gansel é uma adaptação magistral para este fato real. Uma tentativa de nos lembrar sempre os perigos do fanatismo e das autocracias. Realmente, recomendo.



O link para download no Blog Filme e Download:

http://filmeedownload.blogspot.com/2009/03/onda-2008.html

domingo, 6 de junho de 2010

Festim Diabólico de Alfred Hitchcock



Festim Diabólico (1948) de Alfred Hitchcock é um destes filmes que está repleto de virtudes. Primeiramente, a técnica usada pelo diretor. O filme foi todo filmado em tomadas de 10 minutos e coladas como se não houvesse corte algum. Uma das técnicas era filmar as costas dos personagens – todos de terno – e voltar a partir daí, dando a impressão de continuidade. Além do mais, a estória toda se passa dentro de uma sala de apartamento, o que nos remete a uma concepção própria do teatro, ou seja, parece que o teatro toma de assalto o cinema. As personagens se articulam dentro deste espaço, mas a dinâmica do roteiro e o suspense crescente da trama não permitem que em momento algum esta escolha espacial transpareça tédio ou torne o filme cansativo. Muito pelo contrário: esta escolha centra o filme na própria atuação dos atores e nos meandros do roteiro.

A problemática do filme é a seguinte: dois amigos, em Nova York, Brando (John Dall) e Phillip (Farley Granger) decidem assassinar um amigo em comum usando uma corda (o título original do filme é Rope, corda em inglês). O mais inusitado é o motivo do assassinato. Os dois amigos sentem-se intelectualmente superiores ao amigo morto e desejam matar alguém pelo simples prazer de praticar tal ato e seguir impunemente. Mas o roteiro ainda esconde outras bizarrices. Os amigos, após matarem seu camarada, o colocam num imenso baú no centro da sala do apartamento. O problema é que logo em seguida será dada uma festa no apartamento. Eles, de fato, querem saborear esta superioridade encarando os convidados e não sentindo remorso algum.

Entretanto, o desfecho será mais complexo do que eles esperavam. Inicialmente, os dois amigos sentem-se em êxtase por terem conseguido realizar esta façanha, mas logo a culpa acomete Phillip e isto aumenta a tensão do enredo. Ele começa a sentir-se tão mal com o ato que parece a todo instante querer confessar seu crime, enquanto seu amigo Brandon – menos escrupuloso e mais resoluto - tenta convencê-lo de que qualquer confissão poria tudo a perder. A polaridade gerada entre estas tuas posturas antagônicas só cresce quando um dos convidados, o professor Rupert Cadell (interpretado por James Stewart), desconfia deste antagonismo e começa a confrontar os amigos.

Um filme realmente genial e que nos brinda com um Hitchcock numa de suas melhores fases. Um suspense que tem como pano de fundo uma questão moral muito interessante: qual o limite de nossas escolhas e ações?

Eis o link para download no Blog Alquimista do Download:

segunda-feira, 31 de maio de 2010

O Homem de Palha de Robin Hardy


Essa produção britânica de 1973 – com direção de Robin Hardy e roteiro de Anthony Shaffer – relata a chegada do sargento Howie a uma ilha remota da Escócia em busca de uma garota desaparecida e lá se depara com um fato inusitado: a comunidade inteira da ilha não segue os preceitos morais e religiosos de seu cristianismo... são todos pagãos, adoradores do sol e da lua, dos deuses da colheita, do mar e da terra. O sargento fica horrorizado com o fato de que até mesmo nas escolas o sexo é ensinado sem pudor algum. Símbolos fálicos, primitivos, celtas e voltados para uma religiosidade muito antiga e anterior ao cristianismo permeiam toda a ilha.

Na sua busca pela garota perdida, o sargento se depara com o “dono” da ilha, interpretado magnificamente por Christopher Lee. Ele é o responsável espiritual pelo bem estar das pessoas da ilha e pela relação destas com os deuses que ali habitam. O mais inusitado do filme é que ele mescla um clima de horror e suspense a sequências bem elaboradas de musicais, onde as letras e as músicas compõem pistas para decifrarmos o mistério da trama. O sargento Howie termina por descobrir que há um culto na ilha para a deusa do mar e da colheita e acredita que o desaparecimento da garota esteja ligado a tal ritual.

Contudo, para seu desespero maior, ele irá participar, disfarçado, do grande ritual de sacrifício ao Homem de Palha. O sargento acredita que os habitantes – todos fantasiados com roupas que lembram algum personagem do antigo culto – não o reconhecem em sua fantasia e segue, entre os habitantes, em busca da garota perdida.

O final, onde se consuma o ritual do Homem de Palha, revela que nesta ilha não há nenhum traço, por menor que seja, de uma moral cristã. O paganismo, aqui, é ainda vivo e presente na vida de todos... assim o sargento descobre.

Para fazer o download, segue o link no Blog Celtas Today:


terça-feira, 25 de maio de 2010

O Inquilino de Roman Polanski



Este filme de Polanski foi filmado nos Estados Unidos em 1976. Ambientado num edifício enigmático, soturno e portador de uma aura de medo e loucura, onde o personagem principal aluga um apartamento que pertencera a uma garota suicida, o filme trata das alucinações do senhor Trelkovsky (interpretado pelo próprio Polanski), de sua idéia fixa de perseguição e seu modo sempre assustado de encarar as atitudes de seus vizinhos e amigos. O filme possui uma fotografia magnífica, um roteiro muito bem amarrado, personagens extremamente bem construídos (todos misteriosos e sombrios) e um clima denso e quase noir que prende do início ao fim. Influências de Hitchcock e Kafka podem ser sentidas, mas Polanski é um cineasta original e mantém o frescor de sua própria criação. Além do mais, assim como o famoso O Bebê de Rosemary, o final surpreendente nos mostra, em definitivo, que Polanski não está muito preocupado em seguir uma linha realista quando conta suas estórias. Sarcasmo, humor negro e pequenas bizarrices conferem ao filme um status privilegiado. Sem dúvida alguma, eu recomendo.

O link para baixar o filme no Blog Wurdulak:

http://wurdulaks.blogspot.com/search/label/Roman%20Polanski